Faço parte de uma geração que teve de enfrentar vinte anos de ditadura e o teatro foi trincheira e uma arma fundamental para a nossa sobrevivência. Durante as décadas de setenta e oitenta, como presidente da Federação Matogrossense de Teatro Amador e depois membro da diretoria da CONFENATA, pude assistir dezenas, centenas de espetáculos, de norte a sul do país, da mais alta qualidade política, artística e estética. Todos os que compartilhávamos a utopia libertária, tínhamos no teatro nosso maior trunfo. Nesse tempo, toda vez que tínhamos de encenar uma peça, promover um encontro, realizar um festival, tínhamos que tirar dinheiro do “... da nona” e mesmo assim, os espetáculos eram maravilhosos, os encontros estupendos e os festivais inesquecíveis. Foram tempos difíceis, mas de uma criatividade e de uma força jamais vista.
Mas o “BOING” da história seguiu adiante e chegamos até aqui, vivos, sobrevividos e acima de tudo, cheios de tesão para continuar uma luta que não só ajuda a derrubar ditaduras, mas e principalmente, colabora na preparação de novas utopias. E hoje, mais que nunca, precisamos delas. A ditadura, ao contrário do que muitas pensam, não acabou, ela se travestiu, fez plástica, mudou de cara e de nome e está aí mais poderosa que nunca. Nunca fomos tão oprimidos. Só que agora, ao invés de sermos trancafiados nos porões, somos amarrados em sofás cadeiras nas frentes de TV e computadores. Ao invés das torturas físicas, somos massacrados mentalmente por milhões e milhões de ofertas de coisas que não necessitamos. Estão nos transformando num rebanho que já não consegue viver sem as coisas inúteis. Nossas bolsas, malas, armários e dispensas, estão atolados de inutilidades sem as quais, confessamos, não conseguimos sequer respirar. Estamos sendo domesticados e catequizados para seguirmos à risca em pensamento e prática, a mais profunda e contundente filosofia contemporânea: “deixa como está pra ver como é que fica". Estamos ficando híbridos, transgênicos, rasos... Se o teatro vai nos salvar, não sei, mas pretendemos fazer alguns estragos...
De 07 à 16 de outubro na Chapada
Eu estou muito curioso para ver o espetáculo. Devo conseguir ir ver.
ResponderExcluirOlá meu camarada Amauri,
ResponderExcluirMesmo em trincheiras distintas (mas não opostas) continuamos a sonhar e a construir nossas utopias por um mundo novo. Parabéns e sucesso nesse novo trabalho. Forte abraço para você a a Tati.